Uma nova pesquisa internacional identificou que certas espécies de árvores na Amazônia podem funcionar como indicadores naturais da poluição causada pela mineração ilegal de ouro.
De acordo com o estudo publicado na revista Frontiers in Environmental Science, os anéis das árvores — como os da figueira selvagem (Ficus insipida) — têm registrado, ao longo dos anos, as concentrações de mercúrio na atmosfera, especialmente em áreas próximas à atividade mineradora.
🔍 Como funciona o processo
O uso de mercúrio é uma prática comum na mineração de ouro, pois o elemento químico se liga às partículas do metal, formando um composto chamado amálgama. Após esse processo, o amálgama é aquecido, fazendo com que o mercúrio, que tem ponto de fusão mais baixo, evapore. Esse vapor de mercúrio é liberado no ambiente, oferecendo riscos tanto para os ecossistemas quanto para a saúde humana.
Buscando mapear onde e quando a contaminação atmosférica ocorreu, os pesquisadores coletaram amostras de árvores em cinco locais na Amazônia peruana: dois pontos afastados da atividade mineradora e três próximos a áreas de intensa mineração — dentro de um raio de até 5 km de cidades mineradoras, incluindo uma floresta protegida.
🌳 Descobertas do estudo
Entre as três espécies de árvores analisadas — figueira selvagem, castanha-do-pará e tornillo —, apenas a figueira apresentou anéis de crescimento bem definidos, adequados para a análise dos pesquisadores.
Os resultados indicaram que:
- As árvores localizadas próximas às áreas de mineração apresentaram concentrações significativamente maiores de mercúrio;
- Nos locais afastados da atividade mineradora, os níveis de mercúrio detectados foram consideravelmente menores;
- Curiosamente, mesmo próximo a uma floresta protegida, as árvores apresentaram níveis mais baixos de mercúrio do que nos pontos próximos às áreas de mineração ativas.
Jacqueline Gerson, pesquisadora líder do estudo, comentou que, apesar das variáveis que influenciam os níveis de mercúrio nas árvores, ficou evidente a correlação entre a proximidade de atividades de mineração de ouro e a maior presença do elemento químico.
📈 Tendência crescente após 2000
O levantamento também aponta um aumento nas concentrações de mercúrio nas árvores especialmente após o ano 2000, período associado à expansão das operações de mineração de ouro na região. A queima das amálgamas de mercúrio e ouro, prática intensificada nesse intervalo, é apontada como um dos principais fatores responsáveis pelo aumento na presença do contaminante na atmosfera.
🧩 Implicações e ferramentas de monitoramento
Para os autores, a Ficus insipida se revela uma ferramenta de baixo custo e alta eficácia para rastrear as emissões de mercúrio nas florestas tropicais. Além disso, outras árvores com anéis de crescimento bem definidos podem ser utilizadas em estudos futuros para monitorar tendências de poluição atmosférica de forma não intrusiva.
A descoberta também ganha relevância no contexto da Convenção de Minamata sobre o Mercúrio, tratado internacional da ONU que busca reduzir a emissão global do elemento, devido aos seus efeitos nocivos sobre a saúde pública e os ecossistemas.
🗺️ Próximos passos
A pesquisa amplia o conhecimento sobre os impactos da mineração de ouro na Amazônia e abre novas possibilidades para o monitoramento ambiental da região. Com ferramentas naturais como as árvores biomonitoras, torna-se viável desenvolver estratégias mais eficientes para compreender e mitigar os efeitos da contaminação por mercúrio, contribuindo para a implementação de políticas públicas e ações de preservação.
Fonte: umsoplaneta
Brenda Tavares





